O mês de setembro começa com um convite para a conscientização sobre a prevenção do suicídio e a promoção da saúde mental por meio da campanha Setembro Amarelo. Nesse cenário, a literatura surge como uma poderosa aliada para a reflexão e compreensão da depressão. Afinal, por meio dos livros, é possível explorar os recantos mais profundos da experiência humana. Pelas palavras escritas, os leitores mergulham nas complexidades da mente humana e obtêm insights sobre as batalhas internas que muitos enfrentam. A depressão, muitas vezes uma luta solitária e silenciosa, encontra espaço nas páginas dos livros para ser compreendida e discutida de maneira mais aberta. À medida que Setembro Amarelo nos lembra da importância de discutir abertamente a saúde mental e prevenir o suicídio, a literatura surge como uma ferramenta valiosa para essa conversa. Por isso, selecionamos cinco livros para refletir sobre saúde mental: O Demônio do Meio-Dia - Andrew Solomon Lançado no ano 2000, O Demônio do Meio-Dia segue uma leitura fundamental para entender a depressão. De forma muito humana, sem abrir mão da sabedoria e erudição, o premiado Andrew Solomon convida os leitores a explorar um dos assuntos mais complexos e desafiadores do nosso tempo, entrelaçando suas próprias experiências na luta contra a depressão com relatos de indivíduos afetados pela doença, assim como perspectivas de profissionais especializados. Neste livro, Solomon desmistifica concepções errôneas, investiga dilemas éticos e morais, analisa as opções medicamentosas disponíveis, a eficácia de abordagens terapêuticas alternativas, e examina o impacto variado que a depressão exerce sobre distintos grupos demográficos (sejam eles crianças, membros da comunidade LGBTQ+ ou até mesmo habitantes da Groenlândia). Meu ano de descanso e relaxamento - Ottessa Moshfegh Uma narrativa cômica e impactante desenrola-se em torno da experiência de hibernação de uma jovem, sua amiga atrapalhada e uma das mais notórias psiquiatras da história literária. Na Nova York de 2000, uma cidade repleta de oportunidades, a protagonista de "Meu ano de descanso e relaxamento" não tem razões aparentes para se queixar. Jovem e bela, trabalha em uma galeria de arte moderna, reside em um deslumbrante apartamento e herdou uma soma generosa. Contudo, carrega consigo um vazio interior abissal. Esse vazio não é apenas consequência da perda dos pais ou da relação tóxica que mantém com sua melhor amiga. O que poderia estar tão desarranjado? Durante um ano, ela se entrega a longos períodos de sono, induzidos por uma combinação de medicamentos prescritos por uma psiquiatra de moral duvidosa. O mais intrigante é que sua perspectiva parece encontrar validade em sua aversão ao mundo, tornando tudo sob sua observação um tanto ridículo. Moshfegh nos persuade de que, em tempos tão tumultuados como os nossos, a desconexão pode ser uma escolha razoável e talvez até essencial. Tocado por uma sutileza carregada de humor mordaz, inclemente e compreensivo ao mesmo tempo, este romance expõe por completo uma autora inventiva e de habilidades literárias excepcionais. A Redoma de Vidro - Sylvia Plath Este é o único romance da poeta Sylvia Plath. Bem escrito e cheio de humor, se passa na segunda metade do século XX, no pós-guerra e conta a história de Esther, uma jovem que recebe oportunidades incríveis para ter uma vida que não era oferecida para todas as mulheres na época. Porém,ela não consegue viver a plenitude dessas oportunidades pois sofre com a depressão. Com traços autobiográficos, o livro foi um dos pioneiros a trazer o tema da depressão de maneira tão direta. Plath tirou sua vida cedo, mas deixou um legado para leitores no mundo todo. Talvez você deva conversar com alguém - Lori Gottlieb Lori Gottlieb, terapeuta e autora best-seller, revela a surpreendente questão: estão os terapeutas imunes às angústias que ajudam os pacientes a superar? Sua experiência pessoal a leva a explorar isso. Quando ela se depara com a incapacidade emocional de lidar com uma situação que perturba sua própria vida, uma amiga lhe apresenta uma sugestão: por que você não considera conversar com alguém? Entrelaçando histórias de sua carreira com relatos de pacientes (através de quatro personagens distintos), Lori explora nossas dúvidas e ansiedades universais. O livro celebra a capacidade humana de mudança e autodescoberta, ressaltando a importância de ouvir e ser ouvido. A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver - Ana Claudia Quintana Arantes Em 2012, Ana Claudia Quintana Arantes entregou uma palestra cativante no TED, que logo se tornou viral, ultrapassando 1,7 milhão de visualizações. O título do livro, "A morte é um dia que vale a pena viver", originou-se da conclusão do vídeo, e desde seu lançamento em 2016, tem ampliado sua audiência. Uma autoridade proeminente em Cuidados Paliativos no Brasil, a autora introduz uma abordagem surpreendente à temática da finitude. Sua perspectiva reside em não temer a morte em si, mas sim temer chegar ao fim da jornada sem usufruir plenamente a vida. Ao reverter a perspectiva convencional, somos instigados a reexaminar nosso próprio existir e a proporcionar àqueles que enfrentam a dor a oportunidade de uma vida bem vivida até o último dia. Em vez de abraçar o medo e a ansiedade, é vital abraçar nossa essência para que o término se torne um desfecho natural dessa jornada.