Autora de um dos mais importantes livros da literatura brasileira no século XX, a escritora Carolina Maria de Jesus, que escreveu “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, completaria 108 anos no dia 14 de março. Por sua importância para a denúncia do racismo estrutural no Brasil, ela é uma das homenageadas pelo Sebo Capricho no mês da mulher. Até o dia 3 de abril de 2022, o Instituto Moreira Salles, em São Paulo, mantém aberta a exposição ``Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros ``, dedicada à trajetória e à produção literária da autora. O evento destaca também suas incursões como compositora, cantora e artista circense. A exposição apresenta a autora como uma intérprete imprescindível para compreender o país. Ex-catadora de papel e com uma trajetória que inclui a vida na favela do Canindé, em São Paulo, a autora, nascida em 1914, escreveu seu primeiro livro, “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, quando ainda sustentava a família como catadora e escrevia no pouco tempo que sobrava. O livro repercutiu logo na estreia e foi traduzido para mais de quinze idiomas em 40 países. Ela morreu em 1977, em São Paulo. Em sua trajetória, ela enveredou por vários gêneros literários – romance, poesia, teatro, provérbios, autobiografia, contos. No ano passado, Carolina recebeu da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) o título póstumo de doutora honoris causa. Na justificativa da homenagem, a comissão destaca a relevância da escritora, reconhecida como “fundamental na luta antirracista”. O documento da UFRJ afirma a importância da concessão do título honorífico pela necessária “reparação histórica do apagamento não de uma personalidade, mas de um segmento étnico que historicamente foi negado o lugar na cultura nacional”. Destaca ainda que pretende reconhecer injustiças do passado e, principalmente, construir novas possibilidades e percursos para mulheres negras, “cuja marca de subalternidade que alijou Carolina Maria de Jesus do espaço público e literário ainda precisa ser superada”. Os diários que compõem a obra mais conhecida de Carolina Maria de Jesus foram escritos entre 1955 e 1960. Ela foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, que a conheceu quando fazia uma reportagem sobre a crescente favela Canindé, em São Paulo. O livro é um compilado dos diários e narra a luta de uma mulher preta que criou sozinha seus três filhos trabalhando como catadora de papel. Mesmo tendo estudado por pouco tempo, ela valorizava a educação dos filhos. Outro aspecto da biografia da autora é que ela nunca quis se casar, defendia que não precisava de homem para sustentar os filhos. A vida na favela e suas mazelas, a miséria, a fome e a violência perpassam toda a história de Carolina de Jesus. Mesmo com tantas dificuldades, a escritora deu voz a milhões de outras pretas marginalizadas que, como ela, enfrentam no dia-a-dia as consequências do racismo, do machismo e da desigualdade social. A história de Carolina Maria de Jesus
Quarto de despejo: Diário de uma Favelada