O mês de agosto é cercado de mitos e lendas. Chamado de “mês do desgosto” ou “mês do cachorro louco”, é conhecido, também, por trazer ao imaginário popular as tradicionais histórias de assombrações. Como o Blog do Sebo Kapricho ama narrativas bem contadas de todos os gêneros, convidamos o escritor e jornalista paulistano Helton Lucinda a compartilhar sua trajetória na literatura e por que as histórias de horror fazem parte de sua vida. Aos 47 anos, Helton escreve contos nos gêneros fantasia, terror, mistério e ficção científica e tem publicado seus textos em antologias e revistas online. Ele participou das antologias “Os casos ocultos de Sherlock Holmes”, “Vampiros de Vera Cruz” e “Os horrores da Inquisição”, da Cartola Editora; e “Matadores de Aluguel: o Sindicato”, da editora Lendari. Já publiquei nas revistas Subversa, Trasgo, A Taverna e Revista Avessa. Também é colaborador fixo do selo literário Ficções Pulp, que oferece e-books com antologias de contos de autores nacionais independentes e clássicos da literatura. “O selo tem me permitido me aventurar também pelo terreno da tradução. Já traduzi contos clássicos de vampiros, de lobisomem e de fantasmas”, conta. Escritor premiado, Helton ganhou em 2015, com o conto “Quixote Sama”, o II Concurso Bunkyo de Contos, promovido pelo Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa. Já em 2021, o conto “O maior espetáculo da Terra” obteve menção honrosa no I Prêmio Literário Máquina de Contos. Helton conta que o interesse por histórias de terror e afins começa não nos livros, mas nos causos que ouvia quando criança. “Famílias de origem rural contam muitas histórias de assombração. E são contadas como reais, como fatos testemunhados pelo próprio narrador ou por pessoas confiáveis. Eu sempre fui fascinado por essas narrativas. Depois veio o cinema, principalmente os filmes de vampiro. O Drácula dos estúdios Hammer introjetou na minha mente a ambientação gótica”, revela. Na literatura, o primeiro contato com o gênero foi por meio de Edgar Allan Poe. “Ainda tenho aqui meu surrado exemplar de “Histórias Extraordinárias”, uma coletânea que tem contos incríveis, como A queda da Casa de Usher e Berenice. Outro autor impactante pra mim foi H. P. Lovecraft, que traz uma abordagem diferente do horror gótico, conhecida como horror cósmico. Lovecraft busca o efeito estético do horror não no sobrenatural, mas em criaturas vindas das estrelas ou de outras dimensões. ‘Os sonhos da casa da bruxa’ é um exemplo interessante, porque ele dá essa roupagem cósmica ao antigo mito da bruxa”, destaca. Ele avalia que o público mais jovem tem outras expectativas em relação ao terror/horror. “Fantasmas, vampiros e lobisomens já não causam medo, e os filmes do gênero apelam mais para a violência gráfica. Mas os grandes mestres do gênero já sabiam que a fonte do medo não era a aparição em si. Lovecraft disse que ‘o medo é a emoção mais forte e mais antiga do ser humano, e o medo do desconhecido é o mais antigo e mais forte dos medos’. Por isso me agradam mais as histórias que exploram a dimensão psicológica do terror, a dúvida sobre a existência ou não da criatura, do monstro, do fantasma”,conta. Nas histórias que escreve, Helton mistura um pouco dessas influências da literatura clássica de terror com os causos de assombração da infância. “Tenho um conto de vampiro, chamado ‘O causo do cemitério’, que se passa na fictícia cidade de Embu da Peste e é narrado em primeira pessoa por um boiadeiro aposentado. Também escrevi uma história de lobisomem intitulada ‘O maior espetáculo da Terra’, que se passa em um circo itinerante (com direito a passagem também por Embu da Peste) e se inspira na crença sobre a aparição do lobisomem na quaresma”, diz. E como já é tradição aqui no Blog do Sebo Kapricho, pedimos para o escritor e jornalista Helton Lucinda dar dicas de leitura entre seus livros favoritos. Acompanhe! Histórias Extraordinárias, de Edgar Allan Poe Além de contos góticos como A queda da casa de Usher (meu favorito), traz as histórias do detetive Dupin, dentre outras. Os sonhos da casa da bruxa, de H. P. Lovecraft. A história se passa na fictícia Arkham e evoca o episódio das Bruxas de Salem, mas com a roupagem do horror cósmico. O papel de parede amarelo, de Charlotte Perkins Gilman Uma abordagem feminina e, talvez, feminista do terror. Histórias de Fantasmas, de Charles Dickens O autor de Grandes Esperanças também escreveu histórias de assombrações, duendes, demônios e outros fenômenos sobrenaturais. Carmilla, a vampira de Karnstein, de Sheridan Le Fanu A história de uma vampira lésbica, que influenciou o Drácula de Bram Stoker. A volta do parafuso, de Henry James O autor trabalha de forma magistral com as ambiguidades e a dimensão psicológica do terror.Prêmios
Histórias de assombração
Dicas de livros