Uma rede social real, onde as pessoas se encontram para conversar, trocar ideias e aprender sobre cultura. É dessa forma que o jornalista e professor da UEL Emerson Dias, também conhecido como Scada, define os sebos, essas lojas que reúnem livros, discos, CDs, DVDs e revistas cujo conteúdo nem sempre está disponível em livrarias ou até mesmo na internet. Frequentador do Sebo Capricho desde muito jovem, ele conta que foi nos corredores das lojas que conheceu grandes artistas e jornalistas de Londrina, como Mário Bortolotto, Maurício de Arruda Mendonça, Rodrigo Garcia Lopes, Nelson Sato e Ranulfo Pedreiro. “Os sebos são espaços importantíssimos de preservação da memória, pois mantêm um acervo de arquivos que nem sempre são encontrados no circuito mais comercial”, opina. Primeiras leituras Emerson passou a infância e a adolescência em uma pequena cidade do Norte Pioneiro do Paraná, onde não havia livrarias, lojas de discos ou bancas de jornais. Por isso, seu primeiro contato com a leitura foi por meio das bibliotecas escolares. E, como muitos outros leitores, iniciou essa jornada com Monteiro Lobato e livros da coleção Vagalume. Foi quando conheceu autores de aventuras como Jack London (Caninos Brancos e O Chamado da Selva) e Julio Verne, entretanto, que ele reconheceu a literatura como um vasto universo a ser explorado. Ernest Hemingway (Por quem os sinos dobram) surgiu na sequência e ele nunca mais parou de ler obras de jornalistas que também eram escritores e relatavam aventuras por meio dos livros. Ainda aos 16 anos, quando trabalhava como office boy na pequena cidade em que nasceu, Emerson já estava certo de que queria ser jornalista. Por isso, com outros dois amigos que compartilhavam o mesmo sonho, ele chegou a dividir uma assinatura do jornal Folha de São Paulo. “O jornal chegava de ônibus e cada um de nós lia em um período do dia”, recorda. Outra lembrança da época eram as visitas a Londrina para ver shows no Moringão. Como chegavam mais cedo, a diversão era percorrer os sebos e lojas de disco da cidade em busca de preciosidades musicais e literárias. Rato de Sebo Foi aos 18 anos que ele se mudou para Londrina e virou “um rato de sebo”. “É um espaço onde pode-se passar horas lendo, com liberdade para folhear os livros e até mesmo ler histórias inteiras, sem pressão”, avalia. Aos 21 anos, quando entrou no curso de jornalismo da UEL, passou a consumir nomes como José Louzeiro (O estrangulador da Lapa e Lúcio Flávio, passageiro da agonia) e Gabriel Garcia Marquez. Um dos escritores preferidos, aliás, é Ignácio de Loyola Brandão, que narra, no livro “O Ganhador”, a história de um músico que percorre o interior do Brasil. Nessa trajetória, ele passa pelo Norte Pioneiro e cita a cidade de Emerson. Autores londrinenses Um diferencial do Sebo Capricho, na visão de nosso entrevistado, é a seção de autores londrinenses. “Foi no Sebo que comprei tudo de Mário Bortolotto, Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça”, conta. Como professor, ele revela que o Sebo Capricho é um aliado na busca por materiais teóricos sobre fotografia, cinema, imagens e comunicação em geral. Quando ele precisa de um livro que não tem nas lojas, a equipe do Sebo faz uso de uma extensa rede de contatos até achar a obra em questão. Outra vantagem de consumir livros usados é a questão ecológica. “Ao comprar ou trocar livros, reutilizamos o material. É uma questão de economia e de preservação do meio ambiente”, analisa ele, que se orgulha de Londrina ter um sebo gigante como o Capricho. “Não há estruturas similares em outras cidades de mesmo porte, por isso, considero importantíssimo.” Dicas de leitura E ainda sobre histórias vividas no Sebo Capricho, Emerson Dias recomenda três livros que considera fundamentais. O primeiro deles, “O Gosto da Guerra”, do premiado jornalista José Hamilton Ribeiro, conta a experiência vivida como correspondente de guerra no Vietnã, onde Ribeiro inclusive perdeu uma perna em uma mina. “No Sebo Capricho, encontrei uma edição da revista Realidade de 1968 que trazia o José Hamilton na capa e contava essa história. Em seguida, comprei também a primeira edição de ‘O Gosto da Guerra’, de 1969.” A segunda dica imperdível é o já citado “Lúcio Flávio, passageiro da agonia”, de José Louzeiro, que Emerson também comprou uma edição antiga no Sebo Capricho. Por fim, ele recomenda um autor de Londrina, o célebre Domingos Pellegrini. “Minha dica é o livro ‘Assalto à brasileira’, que depois virou um documentário de Rodrigo Grota. É um livro raro que também consegui comprar no Sebo Capricho”, revela.